EDICC 12

12º Encontro de Divulgação de Ciência e Cultura

Menstruado, com O maiúsculo

Za Chacon Saggioro (Doutorando em Ciências Sociais – UNICAMP)

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Menstruado, com O maiúsculo

A criação se trata de um poema escrito e narrado por Za Chacon, pessoa transmasculina, a respeito de suas vivências menstruais. A partir da academia e de projetos culturais, Za tem trabalhado na denúncia da cisheteronormatividade presente nos discursos sociais, educacionais, políticos e de saúde sobre menstruação. Para isso, articula coletivamente a sistematização de referências dissidentes sobre o sangue, almejando a visibilidade de experiências trans, intersexo e de pessoas com deficiência sobre o tema. O poema em específico foi criado na tentativa de organizar as inquietações decorrentes de ser uma pessoa transmasculina e realizar a disciplina “Feminismos, Menstruações e Direitos Reprodutivos”, a primeira da UNICAMP voltada para a pauta menstrual. Sendo a única pessoa trans em meio a uma sala de aula cisgênera em que se pretendia falar sobre o sangue, o áudio exprime as dores e dificuldades de ser visto e compreendido nas dimensões epistemológicas e da linguagem quando se trata de menstruação. Em uma tentativa de expressar as violências e invisibilidades cotidianas sentidas por pessoas trans em relação a essa faceta da sexualidade, o conteúdo toma como base os diversos depoimentos transmasculinos decorrentes do projeto Corpos que Menstruam (Lei Paulo Gustavo – 2023) e a própria experiência para manifestar como sobrevivem as masculinidades outras frente ao CIStema menstrual. Demais referenciais trans que compõem a escrita são as obras da artista Elizabeth Mía Chorubczyk e do filósofo Paul Preciado. A sonoplastia foi feita por Gabriel Fabiano, músico e companheiro de Za, que se utilizou da voz do autor e dos incômodos relacionados a ela durante o uso da testosterona, a fim de distorcê-los eletronicamente e criar uma ambiência para o tema.

Créditos:

Poema e vozes: Za Chacon Saggioro

Trilha sonora, edição e mixagem: Gabriel Fabiano dos Santos

Me esgota, diariamente, a sobriedade de localizar a doença do mundo em um modo perverso de produzi-lo, ao mesmo tempo em que é o meu corpo que carrega um CID, alocando em mim culpa e origem da patologia

 

Dentre os marcos que constantemente se repetem

como lembretes de que não pertenço a humanidade

a marca que tem nome, cor, viscosidade 

a marca que é pura materialidade 

que submete uma criança à mais complexa perversidade 

do determinismo de sua própria impossibilidade de ser:

o sangue

 

Prova viva da sentença de ser uma mulher

como poderia questioná-lo se o sinto eu mesmo?

escorrendo mensalmente como um lembrete persecutório

de que para mim o destino é único e obrigatório 

 

Como pode o corpo ser policiamento de si mesmo?

ser origem e próprio instrumento de punição

na medida que vaza da menstruação 

a condenação de ser, o teu corpo, uma ficção 

 

F64: transtorno de identidade

nos patologizar é preciso pra que vocês se sintam de verdade 

pra sustentar uma existência forjada na fragilidade 

fazem do delírio o próprio conceito de normalidade 

ao ponto de que responsabilizar a biologia

se torna mais fácil do que assumir sua asquerosa transfobia

 

Me sinto roubado 

aniquilado da possibilidade de viver uma experiência pela autonomia 

por um CIStema que suja meu sangue e minha integridade 

com sua desesperada categoria de mulheridade 

 

Elizabeth Mía era uma mulher trans que viveu na Argentina 

ouviu diversas vezes a mesma chacina: 

que independentemente dos peitos ou das cirurgias que pudesse pagar,

mulher jamais seria por não menstruar.

Meio litro de sangue ela tirou de si mesma

das próprias veias, em um manifesto 

performou 13 ciclos de sua vida em que sangrou por um protesto

registrando mês a mês as dores de sua transição hormonal

Effy foi suicidada pouco tempo mais tarde, por 25 anos suportou essa sociedade. 

Me pergunto quanto sangue trans precisa ser derramado

para que o sangue de vocês continue inquestionado.

Indicador Ácido-Base

Ana Carolina Alves Vicente (Fiocruz)

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Indicador Ácido-Base

O áudio descreve um experimento de indicador de pH utilizando repolho roxo. 

Créditos:

Narração: Ana Vicente

@quimipop

Music Credits: Bliss by Luke Bergs

https://open.spotify.com/episode/0hKTgm3DfgQ084s7eQHThk

O PodExperimentar é podcast de divulgação científica de seis episódios, que propõe uma forma acessível de experienciar as atividades práticas de ciências. A partir de uma abordagem multissensorial, ele utiliza princípios de audiodescrição para apresentar desde o cenário e materiais, até os próprios fenômenos de cada atividade prática narrada. 

Ele encontra-se disponível em um total de quatro plataformas de áudio: Deezer®, Amazon Music®, Spotify® e Soundcloud®. 

Ele foi produzido pela então licencianda em química Ana Vicente, com orientação dos professores Maura Ventura Chinelli e Marcelo Monteiro Marques, da Universidade Federal Fluminense, e apoio da equipe de Química do Colégio Pedro II – Campus Niterói.

O podcast surgiu a partir da demanda social de inclusão das pessoas com deficiência visual nas ações de divulgação e educação científica, para garantir seus direitos à educação e participação política em questões de ciência e tecnologia. Dada a demanda de produzir conteúdo remoto por conta do período de isolamento social, percebemos-se que uma ferramenta fundamental na divulgação do conhecimento científico, as atividades práticas, ditas experimentais, eram fundamentalmente visuais – e inacessíveis para pessoas com deficiência visual. Assim, procurando uma forma de acessibilizar essas práticas, surgiu então o podcast. Ele foi desenvolvido a partir de estudos sobre acessibilidade e inclusão e em diálogo direto com professores de química. 

Apesar de reconhecermos as potencialidades do projeto, vemos também que uma limitação da primeira temporada e plano para uma segunda temporada é incluir pessoas com deficiência visual no projeto, tanto como avaliadoras quanto como parte da equipe.

ImaginaSons - Mesas de trabalho com as águas

Muriel Emilia Scarnichia (Maestría en Ciencia, Tecnología e Innovación de la Universidad Nacional de Río Negro – Argentina)

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ImaginaSons - Mesas de trabalho com as águas

O trabalho apresentado é uma seleção de três colagens sonoras que integram “ImaginaSons y encuentros más que humanos”, uma série de dez colagens fotográficas e sonoras criadas a partir da experiência de imersão, troca e deriva que realizei com Natalia König entre março e junho de 2025, em Campinas (São Paulo, Brasil).

Essas três composições, reunidas em um único trilha, são fragmentos de registros de três “mesas de trabalho com as águas: sessões de trabalho do grupo ‘MultiTÃO’, coordenado por Susana Oliveira Dias, no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (LabJor) da UNICAMP.

Mais informações podem ser encontradas emhttps://climacom.mudancasclimaticas.net.br/imaginasons/

O trabalho apresentado foi criado em conjunto com as imagens apresentadas por Natalia König, parte da série imaginSons. Portanto, se as imagens pudessem ser montadas em um espaço onde a trilha sonora pudesse ser tocada, seria o ideal.

ImaginaSoms contó con el apoyo de CAPES, la Coordinación de Perfeccionamiento de Personal de Nivel Superior de Brasil.

Créditos:

Realización integral: Muriel Scarnichia

Idea: Natalia König y Muriel Scarnichia

Voces en orden de aparición:

Mariana Vilela

Susana Oliveira Dias

Hidalgo Romero

Muriel Scarnichia

Agradecimientos:

Integrantes de multiTÃO 

Grupo de Biodanza de Casa Do Lago UNICAMP

ImaginaSons y encuentros más que humanos (selección)

Esta es una selección de tres collages sonoros que forman parte de ImaginaSons y encuentros más que humanos, una serie de 10 collages fotográficos y sonoros realizados en colaboración entre Natalia König y Muriel Scarnichia a partir de una experiencia de inmersión, intercambio y deriva realizada durante su estancia entre marzo y junio de 2025 en Campinas (São Paulo, Brasil) para trabajar junto al grupo “MultiTÃO – prolifer-artes subvertendo ciências, educações e comunicações”, en el Labjor (Nudecri-UNICAMP).

La técnica de collage digital busca dar cuenta del cruce de lenguajes, disciplinas, saberes, afectos y territorios. Imágenes y sonidos emergen de la convivencia con estudiantes, artistas, activistas, investigadoras e investigadores, en “mesas de trabajo” (Oliveira Dias, 2023) del cruce con aguas, plantas y otros seres, en un intento de “entrar em comunicação com um mundo todo vivo” (Oliveira Dias, 2020, p.2). Es un testimonio posible de los encuentros transdisciplinares y multiespecie que se tejieron y que desbordan los límites entre artes, ciencias, comunicaciones y filosofías. 

Este trabajo es, sobre todo, un ejercicio de observación, escucha y co-creación: una serie de encuentros que resuena más allá de fronteras humanas, geográficas y disciplinares.

La serie completa ImaginaSons y encuentros más que humanos se encuentra disponible en https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/imaginasons/

El presente trabajo fue realizado con apoyo de la Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiación 001.

O LABJOR

O Labjor é um centro de referência para a pesquisa e a formação em divulgação científica e cultural no Brasil. Faz parte do Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade (Nudecri), vinculado ao Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).  

REALIZAÇÃO