Menstruado, com O maiúsculo
Za Chacon Saggioro (Doutorando em Ciências Sociais – UNICAMP)
A criação se trata de um poema escrito e narrado por Za Chacon, pessoa transmasculina, a respeito de suas vivências menstruais. A partir da academia e de projetos culturais, Za tem trabalhado na denúncia da cisheteronormatividade presente nos discursos sociais, educacionais, políticos e de saúde sobre menstruação. Para isso, articula coletivamente a sistematização de referências dissidentes sobre o sangue, almejando a visibilidade de experiências trans, intersexo e de pessoas com deficiência sobre o tema. O poema em específico foi criado na tentativa de organizar as inquietações decorrentes de ser uma pessoa transmasculina e realizar a disciplina “Feminismos, Menstruações e Direitos Reprodutivos”, a primeira da UNICAMP voltada para a pauta menstrual. Sendo a única pessoa trans em meio a uma sala de aula cisgênera em que se pretendia falar sobre o sangue, o áudio exprime as dores e dificuldades de ser visto e compreendido nas dimensões epistemológicas e da linguagem quando se trata de menstruação. Em uma tentativa de expressar as violências e invisibilidades cotidianas sentidas por pessoas trans em relação a essa faceta da sexualidade, o conteúdo toma como base os diversos depoimentos transmasculinos decorrentes do projeto Corpos que Menstruam (Lei Paulo Gustavo – 2023) e a própria experiência para manifestar como sobrevivem as masculinidades outras frente ao CIStema menstrual. Demais referenciais trans que compõem a escrita são as obras da artista Elizabeth Mía Chorubczyk e do filósofo Paul Preciado. A sonoplastia foi feita por Gabriel Fabiano, músico e companheiro de Za, que se utilizou da voz do autor e dos incômodos relacionados a ela durante o uso da testosterona, a fim de distorcê-los eletronicamente e criar uma ambiência para o tema.
Créditos:
Poema e vozes: Za Chacon Saggioro
Trilha sonora, edição e mixagem: Gabriel Fabiano dos Santos
Me esgota, diariamente, a sobriedade de localizar a doença do mundo em um modo perverso de produzi-lo, ao mesmo tempo em que é o meu corpo que carrega um CID, alocando em mim culpa e origem da patologia
Dentre os marcos que constantemente se repetem
como lembretes de que não pertenço a humanidade
a marca que tem nome, cor, viscosidade
a marca que é pura materialidade
que submete uma criança à mais complexa perversidade
do determinismo de sua própria impossibilidade de ser:
o sangue
Prova viva da sentença de ser uma mulher
como poderia questioná-lo se o sinto eu mesmo?
escorrendo mensalmente como um lembrete persecutório
de que para mim o destino é único e obrigatório
Como pode o corpo ser policiamento de si mesmo?
ser origem e próprio instrumento de punição
na medida que vaza da menstruação
a condenação de ser, o teu corpo, uma ficção
F64: transtorno de identidade
nos patologizar é preciso pra que vocês se sintam de verdade
pra sustentar uma existência forjada na fragilidade
fazem do delírio o próprio conceito de normalidade
ao ponto de que responsabilizar a biologia
se torna mais fácil do que assumir sua asquerosa transfobia
Me sinto roubado
aniquilado da possibilidade de viver uma experiência pela autonomia
por um CIStema que suja meu sangue e minha integridade
com sua desesperada categoria de mulheridade
Elizabeth Mía era uma mulher trans que viveu na Argentina
ouviu diversas vezes a mesma chacina:
que independentemente dos peitos ou das cirurgias que pudesse pagar,
mulher jamais seria por não menstruar.
Meio litro de sangue ela tirou de si mesma
das próprias veias, em um manifesto
performou 13 ciclos de sua vida em que sangrou por um protesto
registrando mês a mês as dores de sua transição hormonal
Effy foi suicidada pouco tempo mais tarde, por 25 anos suportou essa sociedade.
Me pergunto quanto sangue trans precisa ser derramado
para que o sangue de vocês continue inquestionado.
Indicador Ácido-Base
Ana Carolina Alves Vicente (Fiocruz)
O áudio descreve um experimento de indicador de pH utilizando repolho roxo.
Créditos:
Narração: Ana Vicente
@quimipop
Music Credits: Bliss by Luke Bergs
https://open.spotify.com/episode/0hKTgm3DfgQ084s7eQHThk
O PodExperimentar é podcast de divulgação científica de seis episódios, que propõe uma forma acessível de experienciar as atividades práticas de ciências. A partir de uma abordagem multissensorial, ele utiliza princípios de audiodescrição para apresentar desde o cenário e materiais, até os próprios fenômenos de cada atividade prática narrada.
Ele encontra-se disponível em um total de quatro plataformas de áudio: Deezer®, Amazon Music®, Spotify® e Soundcloud®.
Ele foi produzido pela então licencianda em química Ana Vicente, com orientação dos professores Maura Ventura Chinelli e Marcelo Monteiro Marques, da Universidade Federal Fluminense, e apoio da equipe de Química do Colégio Pedro II – Campus Niterói.
O podcast surgiu a partir da demanda social de inclusão das pessoas com deficiência visual nas ações de divulgação e educação científica, para garantir seus direitos à educação e participação política em questões de ciência e tecnologia. Dada a demanda de produzir conteúdo remoto por conta do período de isolamento social, percebemos-se que uma ferramenta fundamental na divulgação do conhecimento científico, as atividades práticas, ditas experimentais, eram fundamentalmente visuais – e inacessíveis para pessoas com deficiência visual. Assim, procurando uma forma de acessibilizar essas práticas, surgiu então o podcast. Ele foi desenvolvido a partir de estudos sobre acessibilidade e inclusão e em diálogo direto com professores de química.
Apesar de reconhecermos as potencialidades do projeto, vemos também que uma limitação da primeira temporada e plano para uma segunda temporada é incluir pessoas com deficiência visual no projeto, tanto como avaliadoras quanto como parte da equipe.
ImaginaSons - Mesas de trabalho com as águas
Muriel Emilia Scarnichia (Maestría en Ciencia, Tecnología e Innovación de la Universidad Nacional de Río Negro – Argentina)
O trabalho apresentado é uma seleção de três colagens sonoras que integram “ImaginaSons y encuentros más que humanos”, uma série de dez colagens fotográficas e sonoras criadas a partir da experiência de imersão, troca e deriva que realizei com Natalia König entre março e junho de 2025, em Campinas (São Paulo, Brasil).
Essas três composições, reunidas em um único trilha, são fragmentos de registros de três “mesas de trabalho com as águas: sessões de trabalho do grupo ‘MultiTÃO’, coordenado por Susana Oliveira Dias, no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (LabJor) da UNICAMP.
Mais informações podem ser encontradas emhttps://climacom.mudancasclimaticas.net.br/imaginasons/
O trabalho apresentado foi criado em conjunto com as imagens apresentadas por Natalia König, parte da série imaginSons. Portanto, se as imagens pudessem ser montadas em um espaço onde a trilha sonora pudesse ser tocada, seria o ideal.
ImaginaSoms contó con el apoyo de CAPES, la Coordinación de Perfeccionamiento de Personal de Nivel Superior de Brasil.
Créditos:
Realización integral: Muriel Scarnichia
Idea: Natalia König y Muriel Scarnichia
Voces en orden de aparición:
Mariana Vilela
Susana Oliveira Dias
Hidalgo Romero
Muriel Scarnichia
Agradecimientos:
Integrantes de multiTÃO
Grupo de Biodanza de Casa Do Lago UNICAMP
ImaginaSons y encuentros más que humanos (selección)
Esta es una selección de tres collages sonoros que forman parte de ImaginaSons y encuentros más que humanos, una serie de 10 collages fotográficos y sonoros realizados en colaboración entre Natalia König y Muriel Scarnichia a partir de una experiencia de inmersión, intercambio y deriva realizada durante su estancia entre marzo y junio de 2025 en Campinas (São Paulo, Brasil) para trabajar junto al grupo “MultiTÃO – prolifer-artes subvertendo ciências, educações e comunicações”, en el Labjor (Nudecri-UNICAMP).
La técnica de collage digital busca dar cuenta del cruce de lenguajes, disciplinas, saberes, afectos y territorios. Imágenes y sonidos emergen de la convivencia con estudiantes, artistas, activistas, investigadoras e investigadores, en “mesas de trabajo” (Oliveira Dias, 2023) del cruce con aguas, plantas y otros seres, en un intento de “entrar em comunicação com um mundo todo vivo” (Oliveira Dias, 2020, p.2). Es un testimonio posible de los encuentros transdisciplinares y multiespecie que se tejieron y que desbordan los límites entre artes, ciencias, comunicaciones y filosofías.
Este trabajo es, sobre todo, un ejercicio de observación, escucha y co-creación: una serie de encuentros que resuena más allá de fronteras humanas, geográficas y disciplinares.
La serie completa ImaginaSons y encuentros más que humanos se encuentra disponible en https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/imaginasons/
El presente trabajo fue realizado con apoyo de la Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiación 001.
O LABJOR
REALIZAÇÃO